Levantamento revela que mais de 40% da vegetação nativa da região estão preservados
Uma boa notícia nos pampas Remanescentes de vegetação do bioma pampa no Rio Grande do Sul: campestre, florestal e mosaico floresta-campo. A linha vermelha estabelece os limites entre os pampas, na parte meridional, e a mata atlântica (mapa elaborado pelo Centro de Ecologia da UFRGS a partir de imagens de satélite). Todos os anos, ambientalistas, biólogos e afins anunciam estimativas alarmantes sobre a devastação da vegetação nativa do sul do Brasil. Os números são cada vez mais assustadores. Mas qual a origem desses dados? Por incrível que pareça, boa parte deles resulta de aproximações imprecisas – e muitos não passam de mero chute. A partir de agora, no entanto, erros grosseiros não mais deverão ocorrer, ao menos no que diz respeito ao Rio Grande do Sul, onde se concluiu recentemente o trabalho técnico intitulado Mapeamento da Cobertura Vegetal do Bioma Pampa, conduzido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). O estudo, iniciado em 2004, baseou-se em imagens fornecidas pelo satélite norte-americano Landsat, obtidas entre 2001 e 2003. Muito mais do que apenas levantar dados confiáveis, o projeto permitirá desenvolver novas políticas sustentáveis para a região, bem como definir novas áreas de preservação e facilitar a fiscalização ambiental. O mapeamento procurou, inicialmente, estimar quanto ainda resta de vegetação nativa no bioma pampa. Localizado na porção meridional do Rio Grande do Sul, esse bioma se caracteriza por formações vegetais predominantemente de campo, embora também possua áreas de floresta. Os mapas poderão indicar um panorama geral do impacto exercido pelas atividades humanas na região, criando condições para se elaborar um novo planejamento de ocupação. Uma das conseqüências imediatas do projeto é que os pesquisadores terão ferramentas melhores para instruir produtores locais ainda este ano. O objetivo é criar sintonia entre manejo ambiental e desenvolvimento econômico. Dados ultrapassados As imagens de satélite usadas no último mapeamento contínuo realizado no Brasil eram da década de 1970. Bastante desatualizado, esse mapeamento limitava estudos mais precisos sobre a condição atual dos ecossistemas. E sabe-se que nos últimos 30 anos muita coisa mudou no sul do país. Até 2007, não havia dados oficiais sobre o bioma pampa, e o novo mapeamento trouxe uma notícia auspiciosa: 41% da cobertura vegetal nativa da região – a maior parte composta por campos – ainda estão preservados. “É um número considerável”, estima o geógrafo Heinrich Hasenack, um dos responsáveis pelo estudo. Por mais paradoxal que isso pareça, a boa nova se deve à pecuária. Segundo Hasenack, nos pampas a atividade é mais sustentável, uma vez que, na região, ela tem sido praticada em sua forma tradicional, isto é, com animais criados de forma extensiva sobre pastagens nativas. Isso foi possível porque os pampas possuem áreas de pastagem natural muito ricas, com grande quantidade de espécies vegetais que proporcionam uma alimentação diversificada para o gado. É, portanto, um local privilegiado para os produtores. Assim, não há necessidade de devastá-lo. “Não se pode reproduzir artificialmente tamanha diversidade”, explica o geógrafo da UFRGS. Paisagem do espinilho (tipo de vegetação campestre dos pampas) no extremo oeste do Rio Grande do Sul, no município de Barra do Quarai. Para mapear os pampas, o MMA, com o apoio de outras instituições nacionais, desembolsou cerca de R$ 200 mil. Segundo o diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do ministério, Bráulio Dias, a iniciativa faz parte de uma ação mais abrangente, que incluiu os outros cinco biomas brasileiros – Amazônia, mata atlântica, cerrado, caatinga e pantanal –, cujo mapeamento completo custou R$ 3 milhões. Os estudos de mapeamento da cobertura vegetal dos biomas fazem parte do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio), do MMA, cujo valor total é superior a US$ 20 milhões. Desse montante, metade veio de uma doação do Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF), por intermédio do Banco Mundial, e o restante de recursos disponibilizados pelo governo brasileiro.
Henrique Kugler Especial para a CH On-line/ PR 10/03/2008
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